Doce e amargo

Doce e amargo Já fiz textos por encomenda, é estimulante. Mas ultimamente, elas rarearam, então eu encomendo para mim mesmo. De repente a sua mente manda um comando e você desaba a escrever, o que tem sido raro também. Essa senhora a que chamamos mente, me encomendou um texto sobre o centenário de nascimento de algumas pessoas, num determinado ano. Como esse autor não tem sido fiel a seus próprios pedidos, essa encomenda mental foi feita há alguns anos, mas como diz o poeta num magnífico verso, o amor fica guardado num fundo de armário à espera, assim são seus próprios pedidos internos à espera de uma lucidez que não é rápida. Pois bem, o estalo surgiu e resolvi escrever sobre pessoas que nasceram em 2017. Claro que se poderia abrir o leque de opções, mas restringindo ao campo da cultura, 1917, além de acontecimentos históricos, como a revolução russa, pessoas que ainda amamos surgiram para contribuírem para um mundo mais agradável ou palatável, se é que a agonia da fome, o destempero das guerras infames, o escracho social da desigualdade, tornariam um mundo melhor. Cito algumas como o grande Antonio Callado, um intelectual de mão cheia que nos ensinou a construir resistência à ditadura militar pela literatura e nos entregou obra como Kuarup. E o maestro Severiano Araújo com sua Orquestra Tabajara, trazendo música de qualidade por mais de seis décadas? E o rouxinol brasileiro, Dalva de Oliveira, dona de uma voz marcante da época de ouro do rádio brasileiro? Seja no Trio de Ouro, seja sozinha, imprimiu um estilo de cantar que inspiraria nada mais nada menos que Ângela Maria. Poderíamos citar ainda o critico teatral Décio de Almeida Prado, os escritores Josué Montello e Herberto Salles. E o nosso velho guerreiro Chacrinha que saiu do Pernambuco para o Rio de Janeiro para trabalhar em rádio nos anos 40 do século passado? “Balançava a pansa e comandava a massa”, vi muito de seus programas nos anos 80. E a grande Violeta Parra, a chilena guerreira, a poeta da luta contra a ditadura sanguinária de Pinochet, que nos encantou com canções imortalizadas na voz de Mercedes Sosa, como Gracias a La Vida, Volver a Los Diecisiete, entre outras? Por que não se lembrar do clássico, do hino, do tema de muitas vidas, Carinhoso, do saudoso Pixinguinha que a compôs em 1917 e teve letra em 1936 por Braguinha e sua primeira gravação aconteceu em 1937 com o estupendo Orlando Silva? O que tiramos disso tudo? Nada para alguns, muito para outros. Sei lá o quê, talvez um surto de saudosismo, uma pontinha na memória, um refresco na história. O que esperar para esse ano que mal começou? Não dá para esperar muita coisa. Está difícil, diante de tanto ódio disseminado. Até a esperança parece que escorregará pelos dedos. Como explicar pessoas comemorando na internet a morte de uma pessoa, como o caso da companheira de Lula, Marisa? Uma médica divulga na rede, o exame de Marisa, outro, explica como acelerar a morte da “galega”, um procurador de “justiça” solta foguetes com o anúncio da morte. Sem rodeios, não está sobrando espaço para acreditar. Marcos Túlio

Comentários